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Foto do escritorLuana Diniz

"De cabeça erguida": entre estado, família e si (sujeito)



Recentemente assisti ao filme “De cabeça erguida”, uma narrativa que nos transporta para 10 anos da história do personagem Malony - vai da infância até à adolescência - , e gostaria de rascunhar sobre ele por aqui.


A primeira cena do filme "De cabeça erguida" já abre portas para a problemática principal da narrativa: Malony possui seis anos e está na sala da juíza Florence Banque, que confronta a mãe da criança sobre os cuidados dedicados à sua educação.


Mesmo infante, Malony presencia a discussão e tenta acalentar o irmão mais novo que está no colo da mãe. Ouve predicados negativos e é deixado para trás por uma mãe exaltada. Logo na cena seguinte, Malony está próximo aos 16 anos, dirige veloz e perigosamente um carro e, por isso, retorna à sala da mesma juíza Florence, onde a mãe é confrontada mais uma vez sobre as atitudes, agora, do jovem rapaz. 


As cenas são assim como a história de Malony: vêm e vão, quase sem costura, sem conexão breve.


Ao longo de duas horas, presenciamos diversos momentos em que o estado e a família são contrapostos a respeito de Malony, que, ora é detido em instituições de recuperação e, por isso, acusa agentes do serviço público de abandoná-lo; ora busca a mãe, de quem sente falta.


Em um dos diálogos na sala da juíza, essa pergunta ao adolescente “Você pensa nas consequências?”, e não obtém quaisquer respostas dele.


E se fosse com a sua mãe?”, insiste ela, que enfim ouve: “A minha mãe não tem carro”.


É como se ela apelasse para que ele reconheça a lei e, mais, um futuro. No entanto, Malony é um adolescente sem ideal, sem a concepção palpável de um futuro e torna-se a própria denuncia de algo. Não é de se duvidar que, assim como a infração não existe, a lei também não exista pra ele. Malony sequer reconhece a existência do Outro, submetendo-se a ser apenas objeto (sintoma) da família e do estado.


Uma cena me cativa na primeira instituição em que ele é acolhido: a mentora anda atrás de Malony insistindo para que ele escreva corretamente uma carta de aceite que será enviada para uma nova escola, e ele esbraveja: “Não posso errar?”; e ela responde “Melhor sem erros”.


Essa é uma pequena amostra de como a lei se impõe a todo momento para o jovem de forma institucional. Porém, a posição de mais gozar de Malony é prova de sua baixa tolerância à frustração e essa se torna ainda mais violenta na falta de um simbólico para dar sentido àquela vivência.




Não à toa, frases como “eu te amo” ou “estou com saudades” batem numa falta de borda de Malony, que vai se construindo na aposta de um educador, na insistência de um namoro, no estender das mãos de uma juíza e na própria aposta do nascer de um filho.


Não vou me ater a descrever o filme, pois, como eu disse no início, eis aqui um rascunho. No entanto, deixo um spoiler final: o adolescente se torna pai e passa a ter uma nova postura, como se sentisse convocado a deixar de ser objeto do estado e da família para ser sujeito.


É um filme de cenas desesperançosas e também de contrapontos inteligentes. Gostei de considerá-lo.

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